A sabedoria é a mais importante das virtudes, porque ela contém todas as outras. Para sermos mais exatos, ela é a síntese de todas. Idealmente falando, isso significa que ser sábio é ser paciente, confiante, moderado, tolerante, desapegado, altruísta, íntegro, humilde, corajoso, pacífico e benevolente, o que requer grande autodomínio e algum grau de perfeição. Por isso raríssimas pessoas podem ser qualificadas como “sábias”. De fato, o comum dos mortais reúne, no melhor dos casos, apenas algumas dessas qualidades, o que já é apreciável. Por outro lado, alguns defeitos são mais negativos que outros, em particular o egoísmo e o orgulho. Mas quem quer que “sofra” desses defeitos e consiga vencê-los tem muito mérito, tanto no plano humano como no divino.
Neste particular devemos sempre lembrar que não é o fato de ser imperfeito que é carmicamente culpável, mas a falta de esforço para se aperfeiçoar. Independentemente das virtudes de que ela é a síntese, ninguém pode negar que a sabedoria é indissociável do conhecimento. É exatamente por esta razão que o ignorante não pode ser sábio. Entretanto, ainda falta entender o que é isso que chamamos de “conhecimento”. Do ponto de vista rosacruz, não se trata do saber intelectual que algumas pessoas se gabam de possuir e que gostam de exibir, geralmente sob o impulso de seu ego. Na verdade, esse tipo de saber é necessariamente relativo, arbitrário e limitado, por vasto que seja aquilo que se pode aprender no plano puramente cultural. Além disso, ele é próprio das nossas funções cerebrais e não das nossas faculdades espirituais.
Em outras palavras, diz respeito à nossa mente e não dura mais que uma única vida, ao passo que o verdadeiro conhecimento é parte integrante da nossa alma e nela permanece, de encarnação para encarnação. Que é então o conhecimento, no sentido místico do termo? De acordo com as explicações anteriores ele pertence ao campo da alma. Na verdade, corresponde à compreensão das leis divinas, isto é, das leis naturais, universais e espirituais, tais como se manifestam no ser humano e ao seu redor. Inclui também aquilo que comumente chamamos de “experiência de vida”, isto é, a capacidade de compreender as contingências da vida e de se adaptar às circunstâncias. Por extensão, implica conhecermos a natureza humana e conhecermos a nós mesmos, pois a maneira como julgamos os outros com muita frequência revela a visão que temos ou não de nós mesmos.
Seja como for, o verdadeiro conhecimento não é adquirido nos livros, por mais culturais que sejam, mas nas lições que a vida cotidiana nos ensina. Na verdade, são essas lições que contribuem para nossa evolução espiritual, pois elas recorrem necessariamente à nossa alma e deixam uma marca indelével na consciência que lhe é própria. Mas o conhecimento, por mais prestigioso que seja, não basta para tornar sábio quem o possui. Para que assim seja, é preciso que ele seja acompanhado da prática correspondente. Caso contrário, limita-se a um saber teórico sem nenhum interesse, tanto no plano espiritual como no material. Isso significa que a sabedoria é a aplicação daquilo que conhecemos em matéria de filosofia, significando esta palavra exatamente “amor à sabedoria” ou “ciência da vida”, conforme fiquemos com a definição esotérica ou exotérica do termo. Ser sábio, no sentido mais nobre, é, portanto, pensar, falar e agir em consonância com o que se sabe e saber que aquilo que se conhece está em conformidade com a Sabedoria Divina. Em outras palavras, é expressarmos em nosso comportamento a perfeição do nosso Eu divino, em todos os aspectos da vida. Isso implica, naturalmente, um altíssimo nível de evolução.
Posto que a sabedoria é a capacidade de pensar, falar e agir em consonância com a Sabedoria Divina, ela implica o domínio do pensamento, da palavra e da ação. Ser sábio na ação é aplicar cotidianamente a máxima: “Fazer bem e deixar que falem”. Em outras palavras, é fazer o bem sem se preocupar com o julgamento alheio.
É interessante notar que a sabedoria é oposta à loucura na Cabala. Ora, ser louco é carecer de consciência, no sentido de ser inconsciente de suas palavras e de seus atos, na maioria das vezes em função de deficiência mental. Mas é também agir cientemente contra outrem. Em caso extremo, é até mesmo usar a inteligência para fins negativos, até destrutivos, de onde a conhecida máxima: “Ciência sem consciência é a ruína da alma”. Para nos convencermos disso basta pensarmos em algumas aplicações da ciência, principalmente no campo militar. Podemos inclusive nos perguntar por que alguns cientistas colocam seu saber a serviço do mal e da destruição. Via de regra é porque eles carecem de humanismo e agem sob influência de uma concepção materialista da vida.
Somos de origem divina e evoluímos de vida em vida para a perfeição de nossa própria natureza e estamos todos destinados a encarnar na Terra a Sabedoria de Deus, considerada pelos Rosacruzes como a Inteligência Universal que está na origem do universo, da natureza e do próprio ser humano. E é no mais profundo de nós mesmos que devemos nos esforçar para encontrar essa Sabedoria Divina.