Cecil A. Poole, FRC
O desconhecido tem sempre excitado o Ser humano inteligente e a curiosidade é também considerada como um atributo dos animais inteligentes. Acredito que quase todos já viram um cão ou outro animal olhar atentamente na direção de um som com o qual não estava familiarizado ou observar cuidadosamente um objeto que representava algo novo para a sua experiência. No caso do Ser humano, a atração do desconhecido tem sido, ao mesmo tempo, um desafio e um meio pelo qual alguns se deixaram dominar pela crença supersticiosa nos poderes de autoridade de uma outra pessoa ou de algum Ser sobre-humano.
Quando algo acontece no ambiente em que vive uma pessoa e esse acontecimento é inexplicável por meio do conhecimento do indivíduo que observa a ocorrência, então o acontecimento é algumas vezes considerado como milagre – isto é, uma condição que se manifesta como consequência de alguma causa ou função que lhe é desconhecida.
O homem, primitivo provavelmente considerava o trovão e o relâmpago como milagres porque eles eram fenômenos inexplicáveis com base no conhecimento que possuía. Com o avanço do conhecimento, o homem tornou-se familiarizado com a natureza dos fenômenos do trovão e do relâmpago e eles foram reclassificados como fenômenos naturais e não mais como milagres.
Muitos dos chamados milagres nada mais têm sido do que este tipo de acontecimento – isto é, o acontecimento é interpretado como um milagre devido ao ponto de vista do observador. Se uma ocorrência ou condição está além dos limites de explicação segundo o conhecimento e experiência do indivíduo, ela é considerada um milagre e, geralmente, o milagre é atribuído à atitude ou ação de um Ser excepcional.
Há pouco tempo estava eu fechando as janelas do meu escritório. Elas são do tipo conhecido como janelas de caixilho, com uma tela fixada na parte de dentro da janela. O próprio caixilho é operado por uma manivela em sua base, de modo que quando fechado há um espaço entre o vidro e a tela na parte interna da janela, de aproximadamente seis centímetros de largura.
Ao fechar a janela na noite particular a que me refiro, notei que havia uma mariposa na tela e com o fechar da janela ela ficou presa naquele espaço de um quarto de polegada. Começou ela então a fazer movimentos desordenados, como seria o caso de um Ser humano que descobrisse estar confinado a uma área limitada, não sabendo se a fuga seria possível. Tão logo me apercebi da mariposa e a vi naquele local, abri novamente a janela. Ela evadiu-se e eu fechei a janela.
Ao voltar-me, veio-me à mente o seguinte pensamento: “Que teria pensado um Ser humano em condições semelhantes?” A mariposa, se pudermos nos atrever em dotá-la com intelecto, compreensão e conhecimentos humanos, para justificar este exemplo, imediatamente compreenderia, quando a janela foi fechada, que estava numa armadilha. Compreenderia também que dentro de muito pouco tempo, a menos que fosse libertada, viria a sofrer morte física devido à falta de alimento, impossibilidade de se movimentar convenientemente e ao confinamento que resultava de ter um painel de vidro de um lado e uma tela do outro. Então, nesse estado de luta, para escapar às limitações do lugar, subitamente verificou que por alguma razão que não poderia explicar, a janela foi aberta e ela se tornou livre.
Qual seria a conclusão de uma mariposa, se ela pudesse raciocinar e pensar? Obviamente, seria a de que aconteceu um milagre, que um Super-homem ou Ser excepcional praticou algum ato ou criou determinada condição que a libertou daquilo que era morte certa poucos minutos atrás.
Nessa ilustração, vemos um outro exemplo de que um milagre representa um ponto de vista. Do ponto de vista da mariposa, ela nada sabia sobre a existência da tela, do caixilho da janela, do mecanismo pelo qual era ela fechada e aberta, e do fato de que existia o perigo de ser apanhada entre o vidro e a tela.
Pela minha apreciação, a janela é um objeto mecânico comparativamente simples e a libertação da mariposa nada mais foi senão a inversão do processo de abrir a janela e fechá-la novamente. Esse ato, portanto, pode ser sobrenatural para determinado ponto de vista e um ato perfeitamente natural para um outro.
Muitas ocorrências e condições sinceramente aceitas por algumas pessoas como milagres ou interpretadas como milagres podem, em análise final, ser apenas uma lacuna na consciência do indivíduo que tenta explicar o fenômeno. À medida que o homem cresce em compreensão e em evolução, tornando-se consciente de seu meio-ambiente e de todos os fatores que o afetam, sua consciência em expansão abarcará uma esfera de compreensão e experiência continuamente crescente, a qual lhe propiciará explicação para os fenômenos que não são no momento tão aparentes ou simples.
Os milagres, portanto, representam pontos de vista. Constituem-se em graus de apreciação, dependendo da capacidade do indivíduo que emite opinião para determinar qual deve ser a explicação de determinado acontecimento. Ao avançarmos em conhecimento e compreensão, os milagres se tornarão menos e menos frequentes porque não mais serão necessários para preencher as lacunas de consciência, visto que o homem dispõe de capacidade para expandir sua própria consciência ao ponto em que poderá adquirir compreensão universal.