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O pão nosso de cada dia

Cecil A. Poole,FRC

Durante séculos, tem sido uma tradição em muitas religiões, incluir um pedido nas preces diárias para que a pessoa seja suprida das necessidades da vida. Em todo o mundo cristão, o trecho da prece “o pão nosso de cada dia nos dai hoje” é repetido muitas vezes. Essa frase é, aparentemente, uma súplica à força divina que se acredita governar o universo, por parte daqueles que sentem que enquanto o homem reside neste mundo físico e vive em dependência dele, as coisas de que tem necessidade devem ser buscadas e supridas.

É lógico questionar que tipo de interpretação deve ser dado a este ato se o pedido da pessoa para que lhe sejam dadas as coisas necessárias, com as quais manter a sua existência, deve ou não ser considerado no sentido literal ou puramente simbólico. É difícil, para nós que vivemos na época atual, acreditar que a solicitação deva ser considerada como literal. Certamente, com a inteligência que o ser humano tem desenvolvido e aplicado às circunstâncias que encontra no seu ambiente físico, é difícil acreditar que ele possa pensar que uma força divina, ou um deus, possa atender, literalmente ao seu pedido, para supri-lo com as necessidades da vida, sem seu esforço.

Se considerarmos esta solicitação literalmente, então os milhares que a repetem estão pedindo que, por intervenção Divina, o Homem seja alimentado. O Homem ficaria esperando que lhe fossem dadas as coisas que necessita para tornar a vida possível no corpo físico que ocupa. Ao contrário, se uma visão mais ampla é tomada desta solicitação, e o conceito é considerado simbólico, então o pedido do Homem é mais ou menos um reconhecimento do fato de que toda a manifestação, quer física ou espiritual, é dependente da fonte ou origem Divina. O ponto em questão aqui, não é se existe uma força divina, mas, uma consideração da relação do Homem para com essa força.

Aqueles que acreditam num universo que tem uma causa fundamental e uma existência continuada, baseada nas manifestações das leis e forças colocadas em ação por essa causa, acreditarão que a finalidade parcial do Homem em existir neste universo e com ele se relacionar, é utilizá-las. O Homem que nada faz e espera a intervenção Divina para alimentá-lo, provavelmente morrerá de fome, porque está além do nosso conceito atual acreditar que qualquer força divina, seja essa força benevolente ou uma espécie de tirania, suprirá o indivíduo que não faz qualquer esforço para suprir a si mesmo.

As relações do Homem para com o seu ambiente, como tem sido frequentemente repetido em muitas fontes, constituem o seu desafio. Recebemos literalmente o nosso pão do nosso ambiente, pelo nosso próprio esforço, não porque plantemos o grão, moamos o trigo e cozinhemos o pão, mas, porque, de algum modo, entramos em negócios com o nosso ambiente e, por compensação, suprimos as nossas necessidades físicas. Quando pedimos a Deus para ser supridos relativamente a essas necessidades, estamos pedindo conhecimento e orientação, de modo a estarmos aptos a retirar o que necessitamos do ambiente do qual somos parte e, pelo uso da nossa própria inteligência, ficarmos aptos a aplicar essa inteligência, para a manipulação do ambiente que suprirá as nossas necessidades.

O que sejam as nossas necessidades é um problema que nós mesmos devemos decidir. Existem aqueles que acreditam que unicamente pelo acúmulo de amplas quantidades

riquezas a pessoa tem sucesso na sua finalidade, ou seja, julgam os sucessos dos demais, pela quantidade daquilo que acumularam. Mas, na realidade, neste ponto de vista de extremo materialismo, a pessoa perde a visão do próprio conceito fundamental expressado na frase que solicita o nosso pão diário, de que a nossa existência aqui não é de uma natureza permanente, mas transitória. Estamos apelando pela capacidade de usar esse ambiente, de modo que ele possa provar ser um meio, ou um campo, no qual possamos atuar e nos preparar para algo mais avançado.

Essa ideia enquadra-se na questão metafísica do valor, isto é, devem os maiores valores ser encontrados em nosso pão diário e em outras fases físicas do nosso ambiente atual, ou é esse ambiente destinado, unicamente, a nos suprir com as necessidades físicas para manter a vida enquanto crescemos em conhecimento, sabedoria e experiência? Aqueles que têm uma visão teológica do universo, defendem a última teoria.

A teoria do idealismo, ao contrário, afirma que o ambiente físico pode ser bom, mas não suficientemente bom, que os verdadeiros valores transcendem aos valores físicos e que como o Homem aqui existe, ele se prepara para uma existência de maior valor. Este conceito nos ensina que o Homem habita num corpo físico cercado por um ambiente físico, com a finalidade de evoluir uma parte de si mesmo, que existia mesmo antes de sua manifestação física e que continuará a existir depois que toda a energia ou força física tiver cessado de se manifestar, pela forma que conhecemos presentemente.

Quando pedimos nosso pão de cada dia, pedimos orientação. Pedimos direção para que possamos estar conscientes de que a nossa posição aqui é a de nos manter, enquanto voltamos as os nossos olhos para um objetivo mais elevado que esperamos alcançar. Em virtude da nossa capacidade para enfrentar esses problemas menores, ganharemos uma visão mais abrangente que fará com que fiquemos aptos a nos aproximar de mais amplas soluções.

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