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Abra mão, solte, liberte!

abra mão

Quando chegamos num ponto de autodestruição em situações ou relacionamentos, é o momento de olharmos para nós mesmos, para o relacionamento e para a situação de uma forma honesta, amorosa e sem preconceitos. Se as coisas chegaram a um impasse, precisamos ter coragem suficiente para olharmos para dentro e descobrirmos a causa. Frequentemente, tentamos colocar a culpa em outras pessoas ou em influências externas, num esforço para evitar encarar a verdade sobre nós mesmos. Permitimos que a mente invente mentiras para nos proteger da verdade que, de fato, nos libertaria se a aceitássemos. “Conhece-te a ti mesmo!” é uma regra muito antiga, mas é a última coisa que nossa mente consciente quer que faça­mos, pois, se o fizermos, acabaremos percebendo os jogos que ela nos impõe.

Para que conheçamos a nós mesmos, precisamos ter tempo e espaço próprios para deslindar essas questões e dúvidas. Os nossos entes queridos, muitas vezes, se recusam a nos conceder de bom grado esse tempo e espaço.

Às vezes, após muita introspecção e autoquestionamento, libertar-se de um relacionamento ou de uma situação é a única resposta sensata. No entanto, libertar-se não significa desligar o amor ou guardar qualquer culpa ou má vontade em relação à outra pessoa. Significa, no entanto, soltar nossas garras de pessoas ou coisas, e permitir que a Divina Inteligência dentro de nós nos guie na descoberta de nosso verdadeiro eu. Basicamente, permitimos que o Cósmico aja através de nós e, com isso, encontrar uma paz que não conseguiríamos alcançar se continuássemos a nos agarrar às coisas da forma que queremos que sejam ou que esperamos que sejam. A vida tem seus altos e baixos, e os problemas surgem quando insistimos em que a vida seja do jeito que queremos, ou que ela atenda a todas as nossas expectativas.

Imagine-se numa bela faixa de areia de praia. A areia está quente e macia ao toque de sua mão. Pegue um punhado de areia e aperte com força. Perceba o que acontece. Ela começa a escorrer por entre os seus dedos fechados. Quanto mais você tenta segurá-la mais rápido ela escorre por entre seus dedos, até que você fica segurando apenas uma pequena parte daquilo que você tinha no início. Depois, pegue mais um punhado de areia, mas, em vez de fechar o punho com força, deixe a mão aberta e perceba como os grãos de areia permanecem ali, livres para cair ou ficar ali mesmo. Você vai se perceber segurando os grãos de areia na mão por muito mais tempo, com menos esforço, menos gasto de energia do que se você tentasse possuí-los e mantê-los prisioneiros em seu próprio punho.

Mas será que qualquer dessas formas de reagir à areia mudou seu sentimento em relação a ela ou mudou a areia? Obviamente não. Você ainda sente que vale a pena tê-la, que vale a pena senti-la. Ela ainda é tão bonita e ainda é muito bom sentar ali e apreciar a paz e a maciez da areia. E o que é melhor, ela vai continuar ali permitindo que você a aprecie, dia após dia, pelos tempos futuros.

A vida e o Amor

A vida e o amor são bem parecidos com aqueles grãos de areia. Queremos possuir para sempre os sentimentos que o amor desperta dentro de nós. Queremos nos agarrar e recuperar aqueles momentos das primeiras emoções… os sentimentos de felicidade, alegria e plenitude, tentando nos agarrar ao ser amado depois que ele ou ela mudaram de maneiras que nos recusamos a aceitar. Para aquele ser amado, transferimos os sentimentos que são na verdade nossos, e que sentimos inicialmente porque aquela determinada pessoa nos colocou em contato com o nosso lado mais amável e mais bonito.

Muitas vezes é possível recuperar esses sentimentos mais uma vez, e deveríamos fazer todos os esforços nesse sentido de uma forma honesta para aprender com os problemas e construir um relacionamento mais profundo, mais amoroso do que o anterior. Mas existem momentos em que apenas um dos parceiros está disposto a se esforçar para fazer com que isso aconteça, a explorar todas as alternativas possíveis para fazer com que o relacionamento funcione…, talvez até bem depois do momento em que um ‘até logo’ fosse mais apropriado.

Abrir mão significa olhar para nós mesmos honestamente, aprendendo a amar os outros como eles são, permitindo a eles a liberdade de serem eles mesmos, embora isso possa ser diferente daquilo que gostaríamos que eles fossem. É ter a coragem de dizer “Eu mudei, eu cresci, estou fazendo o melhor que posso, embora nem sempre esteja correto. Estou lhe oferecendo minha mão. Acompanhe-me em meu crescimento, venha ser meu companheiro. Mas tudo bem se você não quiser vir comigo. Eu o amarei, aceitarei e respeitarei de qualquer forma, porque assim manterei minha integridade e o apoiarei na sua integridade.” Afinal de contas, cada um de nós tem seu próprio caminho a trilhar, junto ou separadamente, mas ainda podemos aceitar e amar a outra pessoa pelo fato de ela partilhar sua vida conosco e nos oferecer o que tem de melhor.

No livro “Um Milagre para se acreditar”, há uma história sobre uma criança autista que foi trazida de volta à ‘vida’ por meio da aceitação e do amor incondicional. É uma bela lição sobre como abrir mão de algo. A pergunta que o terapeuta continuamente fazia aos pais era: “Por que vocês ficariam infelizes se seu filho não mudasse nunca?” O verdadeiro significado dessa pergunta é: por que apenas seguindo vocês em seu mundo é que a existência de outra pessoa os faria felizes? Por que você não pode ser feliz amando e aceitando, não se importando com o que aquela outra pessoa escolha fazer com sua vida? E, se for preciso abrir mão do controle para permitir que aquela pessoa viva sua vida de sua própria forma, então não há razão para deixar de amá-la ou a continuar agarrado às coisas como elas são, ou a imagens de como elas poderiam ser “se apenas…” a fórmula que deve ser lembrada é “E se”, ou “O que foi” não é o mesmo que “o que é”.

Liberdade para ser você mesmo

Como então sabermos quando podemos largar? Se um relacionamento chega a um ponto em que um dos envolvidos se recusa a aceitar o outro como ele é, a permitir a ele a liberdade de estar onde estiver e ser o que é, então é o momento de dar um passo atrás e examinar honestamente o que está acontecendo. É o momento para a autoanálise e busca da alma. Pode ser um período desconfortável, doloroso e de provação emocional, mas também um período de enorme crescimento e de grandes inspirações tanto do ponto de vista pessoal quanto espiritual.

Avaliando o relacionamento, deveríamos considerar as seguintes questões:

Por que estou frustrado ou infeliz nesse relacionamento/situação?

Existe alguma coisa que posso fazer em relação a isso, ou seja, partilhar minhas preocupações, pedir ajuda, dar à outra pessoa uma chance de me encontrar no meio do caminho, expor meus sentimentos, abrir espaço para mim enquanto eu organizo meus pensamentos e meus sentimentos?

Qual é a intensidade do meu sentimento com relação ao meu compromisso de permanecer na mesma situação (sem considerar convicções pessoais, normas sociais ou crenças religiosas)? Será que consigo me sentir realmente confortável, amoroso e feliz dentro desse relacionamento?

Que valores são importantes para mim? Priorize fatores como honestidade, vontade de crescer, generosidade, confiança, paz de espírito, riscos que precisam ser aceitos, autoestima, reconhecimento, abertura, partilha, aceitação, verdade, liberdade e manutenção de aparências. Coloque-os em ordem de importância e veja como eles diferem dos de seu(sua) parceiro(a) na situação, se ele está disposto a se abrir o suficiente para discuti-los sinceramente. Onde ficam as áreas de diferenças? Elas podem ser aparadas? Vale a pena aparar essas diferenças ou será que é melhor continuar em caminhos separados? São perguntas que só você pode responder.

A relação ou a situação está indo para algum lugar ou está estagnada e é estressante pelo simples fato de estar num limbo? Você consegue resolver a questão por confronto, colocando limites e linhas mestras com relação ao que você vai aceitar no relacionamento e de fato manter sua palavra com relação ao que você está disposto a aceitar?

Tenha a coragem de enfrentar a verdade sobre você mesmo. Admita as verdades desagradáveis sobre você e esteja disposto a mudar seu comportamento. Aceite a ideia de que está bem para você não ser perfeito, não ter todas as respostas. Perceba dentro de você que você merece ser amado, aceito e ser feliz do jeito que você é agora…, não como alguém quer que você se torne. Você é único e especial como é, onde está, e não precisa ser ou fazer qualquer outra coisa para se tornar merecedor de alguma coisa.

Abrir mão liberta você para amar o passado, aceitar o presente e planejar e criar o futuro. Liberta-o para aceitar o plano Cósmico reservado a você; para o verdadeiro e belo você, que vai continuar sendo até bem depois que as situações e eventos em sua vida tiverem mudado e desaparecido.

Artigo extraído da revista “O Rosacruz” nº 272, outono 2010.