Clovis Gobbi, FRC
De passagem por este planeta, tudo o que temos, possuímos ou dele usamos e desfrutamos, não nos pertence. A terra, a água, o ar, a luz, a fauna, a flora etc., não são nossa propriedade. Estão a nossa disposição para o necessário e adequado uso, para nossa evolução. Devemos usá-los como inquilinos e não como donos. Sendo apenas locatários e não proprietários destes bens, pressupõe-se sua conservação para os que virão depois de nós e estes deverão conservá-los para os que virão depois deles. Mesmo os que têm escrituras públicas registradas em Cartórios, de chácaras, sítios e fazendas são donos apenas relativamente e não absolutamente, porquanto, tornaram-se proprietários pela legislação terrestre, de cada país, mas não o são pelas leis Cósmicas, que regem o universo.
Até mesmo nossas residências, nossos carros, nossos estabelecimentos comerciais, nossas fazendas, nossos escritórios, nossos aviões, nossos barcos, nossas joias, nossa vestimenta, nosso dinheiro, nossos bens todos, deveríamos usá-los como se fossem alugados, isto é, sem apego. Admitir que temos estes bens para favorecer nossa evolução espiritual e não para tê-los como meta de vida. Ter a vivência de desfrutá-los por concessão da Inteligência Divina também e não só por conquista nossa. Viver como se o patrimônio fosse um meio e não um fim. Possuir uma atitude de gratidão pela vida, pela saúde, pelo alimento, pela moradia, pela proteção, pelo transporte, pela instrução, pelo conhecimento, pela cultura, pela natureza, pelo céu, pelo trabalho, pela família, pelas qualidades, virtudes, valores e dons que temos, pelas oportunidades, pelos desafios e até mesmo pelas dificuldades que enfrentamos. Manter sempre uma conduta de respeito ao Cósmico – o finito curvado ao infinito – eternamente buscando a sabedoria e aprendendo o amor.
Até mesmo a fama e o sucesso profissional e pessoal devem ser considerados como registros de inquilinato e não como ativos de capital, em razão do contexto e das circunstâncias em que são adquiridos e sobretudo pela sua efemeridade. A consciência desta postura, aliada ao desapego material, fará com que parte dos dividendos dos abonados possam ser repartidos com os necessitados, sem chances de crescimento, diminuindo a disparidade social. A insensibilidade a esta realidade faz com que a distância entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco, não seja diminuída, perpetuando-a no tempo.
Assim, por sermos inquilinos e não donos, não temos o direito de destruir as florestas, poluir os rios e a atmosfera, desequilibrar o meio ambiente, extinguir os animais e empobrecer a natureza como um todo. Temos o direito de usufruí-la, todavia, com respeito. Outrossim, não temos o direito de viver egoisticamente, sem “repartir o pão”. A convivência solidária evita a vivência solitária. Ou seja, dar, ajudar, colaborar, contribuir é, antes de ser um ato de generosidade, um ato de inteligência. A lei de causa e efeito prova está afirmativa, uma vez que não existe colheita diferente de semeadura. Reclamamos da violência, da falta de paz, do desamor, do materialismo enraizado nas entranhas das pessoas. Mas o que fazemos de concreto para modificar este quadro? Nada existe por acaso. Tudo tem uma causa. Costumamos ver e sentir apenas os efeitos. Não temos o hábito, via de regra, de analisar as causas e, por conseguinte, temos posturas equivocadas, atitudes dúbias, condutas erradas, comportamento omisso, o que protagoniza um círculo vicioso. Pensar que somos proprietários de tudo e, desta forma, podemos dispor de tudo, até mesmo fazendo ações perversas para o acúmulo de tesouro material, é colaborar para a involução da humanidade, quando nossa missão é o contrário: fazer a evolução pessoal e a coletiva. Isso só é possível se vivermos como inquilinos não como donos deste planeta.