Solidariedade é um termo muitas vezes utilizado para caracterizar os apelos que se referem a situações transitórias e de solução emergencial. Ou seja, situações pontuais com espaço e tempo determinados. Por exemplo, solidariedade com os portadores da Aids, crianças diabéticas, guerras, holocaustos etc. Essas situações são importantes porque colaboram na construção da história da humanidade. É a solidariedade feita de ações isoladas, mas que floresce de tempos em tempos e evidencia o desejo do ser humano em ser solidário.
A questão é que no momento político e social em que vivemos, essa abordagem, a da solidariedade pontual e específica, não é mais suficiente. Considerando-se a desigualdade e exclusão social que impera no mundo, é emergencial uma proposta de solidariedade como linha condutora intrínseca de todo e qualquer investimento pessoal e social.
Portanto, nessa reflexão, o termo solidariedade vai um pouco além do que o pontual e específico. A nossa proposta é de abordarmos a “sensibilidade solidária”. Trata-se de uma solidariedade estrutural, atuando como ponte mediadora entre o desejo de ser solidário e a operacionalização desse desejo.
Em recente publicação, Assmann e Sung1 apresentam um estudo de como podemos ao menos tentar superar a brutal exclusão social que marca o nosso tempo. Para esses autores, é fundamental que o desejo de solidariedade comece a fazer parte da dinâmica do desejo das pessoas e da sociedade. Considerando a Educação como mola mestra desse processo, eles apresentam dez elementos fundamentais para a formação de um quadro de valores educacionais solidários. A reflexão desses autores, em grande parte, gira em torno de uma dimensão profunda dos nossos desejos enquanto abertura relacional.
Dessa forma, compreendemos que há necessidade de mudar muitas coisas nesse mundo, mas a nossa contribuição concreta está condicionada a forma como nos relacionamos com o mundo, ou seja, ao fato de saber viver neste mundo, ao fato de gostar deste mundo. Por isso às vezes é saudável frear-se no tempo e perguntar-se: como realmente estamos vivendo? Quais os efeitos de nossas ações sobre as outras pessoas e sobre o mundo que está a nossa volta? Há pequenas coisas que podem concretamente ser melhoradas no nosso cotidiano e no das pessoas que nos cercam. A melhor maneira talvez não seja criticar o que ainda não foi feito ou sonharmos com atividades solidárias distantes do nosso alcance. Os menores trabalhos são os mais importantes porque nos trazem resultados visíveis e demandam um nível de crença acessível às pessoas comuns.
Solidariedade e desejo de solidariedade não é algo que se encontra pronto, como predisposição natural do ser humano. Solidariedade se constrói e está disponível a todo ser humano predisposto a mudanças!
Doutora em Educação.
Nota: 1. ASSMANN, Hugo; SUNG, Jung Mo (2000) Competência e Sensibilidade Solidária: educar para a esperança. São Paulo: Editora Vozes, 331pp.